Seus olhos me viam

Diogo Hartuiq Debarba
2 min readJul 25, 2021
Um olho castanho visto de perfil olhando bem para o que vê.
Seus olhos me viam — Diogo Hartuiq Debarba — Foto de @Natalia Romay

De uma inocência admirável,

seus olhos me viam,

é preciso dizer porque hoje a maioria deles não nos veem,

bagunçávamos um ao outro com nossos beijos,

mas o caos naquele momento não tinha importância,

seus olhos me viam,

lembro dela falando da gatinha doente de um modo tão doce que me fez sorrir,

seus olhos viam também a gatinha,

é o que chamo de artista por natureza,

sua entrega ao momento é sincera e também insensata,

disse para ela que devia dar mais valor e não perder aqueles olhos de jeito nenhum,

quanto mais velhos mais eles vão dando lugar para a compulsão,

até se transformarem nos olhos como dos outros,

olhos que não me veem,

por um instante enquanto abraçados pensei no futuro e até mesmo em nosso futuro,

e senti vergonha por que os seus olhos podiam me ver,

voltei a vê-la,

a grande verdade é que apesar de a ter amado naquela noite,

não daríamos certo por muitas noites,

por quase 365 noites ao ano,

não é culpa dela, não é culpa minha,

é que nossas energias são como dois projéteis que batem de frente criando uma explosão,

apesar de bela,

ainda é uma explosão que destrói ambos,

mas não é uma batida abrupta,

é em câmera lenta,

ou melhor em olhos lentos,

nossos olhos que se veem, sorriem, se amam,

contudo se destroem em segundo plano,

queria que não fosse assim,

talvez em uma ilha afastada e inexplorada pelo homem faríamos bem,

mas a cidade é pouco espaço para nós,

as mentes influentes nos machucam,

seus olhos ainda me veem,

só lhe peço para que cuide do olhar,

porque se há um tempo que pouco importa nos destruímos ou não,

se o mundo nos destrói ou não,

é quando nossos olhos se mergulham,

quando em nosso tempo seus olhos me viam.

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Diogo Hartuiq Debarba

Eu? Uns tantos, Um tanto de literatura, Um tanto de pintura, Um tanto de palhaço, Um tanto de música, Um tanto de tecnologia, Mas também paro, Para ser nada